Próximas Aulas


O objetivo desta Sessão é publicar alguns textos interessantes sobre o tema, para que possamos chegar na próxima aula com informações e questionamentos relevantes sobre o assunto.
  
Boa leitura!!




Aula 14 - 04/10/12

'Gênero, Raça e Sexualidade'

Seminário Juventude: gênero, raça e sexualidade

by Cleverson de Oliveira Domingos on Jun 14, 2010

Apresentação utilizada no Seminário "Juventude: gênero, raça e sexualidade" para a Disciplina Juventude, Educação e Cultura ministrada pela Professora Drª. Wivian Weller.




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Aula 12 - 27/09/12

Makotas e Ekedes Guardiãs do Segredo: As Mulheres que já Nascem Grandes

Leiam opiniões e respostas dados no Site Rede Afrobrasileira Sociocultural  a partir de um questionamento feito à cerca do tema da nossa próxima aula.

Espero que estes comentários possam ajudar a nos abastecer de informações.

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Benção aos meus mais velhos e aos meus mais novos!


Queridos(as) irmãos (as) gostaria que me ajudassem com depoimentos, citações, lendas etc que falem sobre o papel e a importância das ekedes, makotas, ajoies,yarobás  nas religiões de matriz africana pois estou escrevendo um texto para a faculdade e o conteúdo que tenho é pouco, se alguém tiver conhecimento de como era ou é a ação das pessoas que não recebem que só cuidam das divindades na Africa também me seria muito útil.

Atenciosamente e desejando muito axé a todos(as)!!!!!!!!

MAKOTA YALOMIFÃ



Respostas:

Ekedi, Ajoiê e Makota nomes dados de acordo com a nação do candomblé, é um cargo feminino de grande valor, escolhida e confirmada pelo Orixá do Terreiro de candomblé (não entram em transe). Na Casa Branca do Engenho Velho, as ajoiés são chamadas de ekedis. No Terreiro do Gantois, de "Iyárobá" e nos terreiros de Angola do candomblé Bantu, é chamada de "makota de angúzo", "ekedji" é nome de origem Jeje, que se popularizou e é conhecido em todas as casas de Candomblé do Brasil.
Dentre os cargos femininos na hierarquia do candomblé no Brasil, o mais conhecido é da Ekedi, como os ogans, elas não são possuídas por seu orixá de cabeça, ou seja não entram em transe, pois necessitam estar acordadas para atender as necessidades dos Orixás, Voduns ou Inkices para os quais foram devidamente preparadas para servir.
A ekedi na maioria das casas também é chamada de mãe, exerce a função de dama de honra do Orixá regente da casa. É dela a função de zelar, acompanhar, dançar, cuidar das roupas e apetrechos do Orixá da casa, além dos demais Orixás, dos filhos e até mesmo dos visitantes. É uma espécie de “camareira” que actua sempre ao lado do Orixá e que também cuida dos objectos pessoais do babalorixá ou iyalorixá. O cargo de ekedi é muito importante, pois será ela a condutora dos Orixás incorporados no Egbê (barracão ou sala de festividades) e dela é a responsabilidade de recolhê-los e “desvirá-los”, observando as condições físicas daqueles que “desviraram”. Para se tornar uma ekedi, ela primeiramente é apresentada e não suspensa como o Ogan, e logo depois será confirmada, com as obrigações de quarto-de-santo.

Babá Filaroumin ty Osun



Na realidade, no culto tradicional em solo africano não existe esta categoria de pessoas. O cargo de exede (ou qualquer outro nome dado a ele de acordo com a nação) não existe e jamais existiu em solo africano. No culto lá existem pessoas que incorporam orixá e pessoas que não incorporam, mas estas que não incorporam não possuem nenhum título especial, são adeptos comuns do culto. Além do mais, qualquer pessoa que não estiver virada com orixá pode cuidar dos orixás que estão virados na cabeça de outras pessoas (secar, vestir, arrumar, dançar, etc), não há nenhum cargo específico para esta atribuição. Tanto o cargo de ogã como o de ekede surgiram em solo brasileiro, dentro da estrutura hierárquica do Candomblé, que é uma religião criada e organizada em solo brasileiro. Vale reiterar: o Candomblé não é uma religião africana, ele é uma religião brasielira de matriz africana, criada por africanos em solo brasileiro. Há MUITAS diferenças entre a estrutura do Candomblé e as dus cultos tradicionais africanos, e uma destas muitas diferenças está na existência dos cargos de ekede e ogã aqui no Brasil e na inexistência desses mesmos cargos lá em África.

Um grande abraço a a você, e que meu Pai Logun te abençoe e te dê sorte na pesquisa.

Monique Lopes Inocencio



Amiga Makota Yalomifã,

Na sua postagem, você pede depoimentos, citações, lendas, etc... então eu posso falar bobagem e você da uma filtrada.
Então eu vou tentar repassar o conhecimento que tenho sobre o assunto e minha opinião acerca dele.
No culto tradicional yoruba, mais especificamente no país da Nigéria, esta tarefa de assessoramento, de cuidar dos apetrechos, zelar, acompanhar, dançar, de ser escudeira do orisá, não existe lá. Existem aqueles que incorporam o orisá e aqueles que não incorporam o orisá. Existem muitos mais pessoas que não incorporam o orisá do que aqueles que incorporam o orisá. Tendo em vista que na cultura daquele povo, dentro de uma comunidade, apenas uma única pessoa incorporará o orisá, daí, dá para se ter uma ideia de quantas pessoas incorporam o orisá. Apenas como informação, na festa do orisá osun em osogbo em Osun state na Nigéria, que ocorre normalmente no final de agosto, podendo ocorrer na primeira semana de setembro de acordo com o calendário, apenas uma pessoa incorpora o orisá osun, diante de milhares de seguidores.
As pessoas na Nigéria não são iniciadas para incorporar ou não incorporar o orisá, já nascem dentro do culto. Vários rituais poderão ocorrer durante a vida da pessoa dentro de sua comunidade de acordo com as funções a que ela for destinada. Se no decorrer dos anos, ela vier a ser a escolhida para ser montada pelo orisá, ela passará por um ritual para estar preparada para esta fase. Algumas pessoas já sabem previamente que não serão escolhidas para serem eleguns (montadas) mas isso não diminui e nem aumenta em nada sua condição dentro da comunidade.
Agora uma informação que pode ser importante para sua pesquisa. A palavra ekeji significa "segunda" do "primeiro, segundo, terceiro, etc..." pode ser que quando os africanos que vieram para nosso país na condição de escravo, e tenham estabelecido uma casa de culto, tenha indicado uma pessoa como a segunda pessoa dele, chamando-a de ekeji, e no caso essa segunda pessoa não incorporava o orisá, podendo ter surgido daí esta associação.
Devemos levar em consideração também que, os africanos que aqui estavam e que iniciaram casa de culto ao orisá, eram predominantemente do sexo feminino, porque aos homens, eram destinados as obrigações de prover os alimentos da família, por ser então uma religião, praticada mais por mulheres, terem dado exclusividade para as mulheres.
Já ao ogan, era a função do homem, destinado a garantir a segurança do grupo, nos rituais, uma vez que a pratica do candomblé era proibida e por muitas vezes, reprimida com força policial.
Se fizermos uma analogia as funções exercidas na Nigéria, encontraremos as expressões de ekeji, fazendo referencia a segunda pessoa dentro da comunidade, comparando com nossos atual (pai pequeno ou mãe pequena).
Também encontrarem a expressão baba kekere ou iyá kekere como (pai pequeno e mãe pequena) como também encontraremos a expressão de otun e osi (o lado direito e esquerdo) sendo a importância da direita para a esquerda.
Então, minha amiga, dentro daquilo que conheço, não existe a função para a pessoa que não se manifesta com o orisá e se torna uma assessora deste.
Aproveito a oportunidade de lançar uma dúvida minha, porque nas casas de candomblé, encontramos ekedes assessorando orisá diferentes daqueles para qual ela foi iniciada? Vou exemplificar, encontram ekede do orisá ogun que foi iniciada para oxalá. Ogun leva epo (dende) oxalá não, como fazer prática nos rituais agradando a um e desagradando a outro?
Na minha pouca concepção, as casas de candomblé poderiam escolher ekedes que fossem do orisá ao qual ela deverá auxiliar, de forma que houvesse uma harmonia entre o orisá e a ekede do mesmo orisá.
Sei que minha opinião vai ser criticada, afinal, não temos o direito de questionar a vontade do orisá. Mas ainda assim, eu não consigo entender.
Apenas a título informativo, os sacerdotes de orisá na Nigéria, aqueles que tive contato, nunca tiveram a manifestação da incorporação do orisá.
Aproveitamos aqui mais uma citação, o babalawo, função de grande importância na cultura yoruba, não tem e nunca terá incorporação de orisá algum.
Abraços,
Espero ter ajudado de alguma forma, caso contrário, apenas descarte a minha opinião.
 

Ifasakin


 

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Aula 10 - 06/09/12
TURISMO CULTURAL

Em importantes cidades do mundo, cultura e turismo estão intimamente ligados. Tal questão não poderia estar fora de um Plano que remodelará uma área importante de uma cidade histórica e com tantas belezas como Salvador. Com o aumento da demanda turística e da exigência dos visitantes, é fundamental que a cidade se torne competitiva no mercado nacional e internacional. Para isso, os patrimônios material e imaterial precisam ser cada vez mais conhecidos, mapeados e, sobretudo, qualificados.

Artesanato, culinária, festas populares e manifestações culturais que constituem este patrimônio soteropolitano devem ser priorizados nas ações que visam fortalecer os pontos altos da cultura baiana. Os serviços também merecem atenção, como hospedagem, traslados, restaurantes, empresas de turismo, serviços de informação e guias, bem como os vendedores ambulantes, de modo que os profissionais dessas áreas passem por constantes processos de qualificação.

Uma forma de integrar o Centro e os turistas é através do estímulo às empresas de turismo na implantação e operação de roteiros culturais de forte interesse turístico, como acontece em cidades do exterior. O visitante que chega a Salvador e vai ao Centro de Referência da Cultura (ver proposição 13), no Palácio Rio Branco, por exemplo, além de obter uma visão geral do Centro Antigo e conhecer sua história, poderá, a partir das informações ali obtidas, traçar os itinerários de visitas, otimizando o tempo e permitindo uma melhor compreensão da cultura local. Inúmeras serão as possibilidades de roteiros turísticos: o do Barroco, com um panorama da arquitetura colonial, mostrando o casario e as igrejas; o das Artes Visuais e Cinematografia perpassa os museus e galerias; o dos Pesquisadores priorizaria os inúmeros arquivos e bibliotecas que guardam a história documentada da cidade; o Afro, aos interessados na ancestralidade do povo baiano, mostrando a riqueza das feiras populares, da capoeira e dos elementos percussivos; o da Economia do Sagrado, por sua vez, é uma viagem pela Feira de São Joaquim, Mercado Modelo e Mercado de São Miguel, bem como Casas de Santo.
Há ainda diversos possíveis roteiros, voltados para o artesanato, gastronomia e fé. Serão criadas atividades e ações de apoio aos roteiros como campanhas de divulgação, implantação de sinalização turística e produção de material com informações sobre monumentos, programações culturais e outras atividades. Para a estruturação do turismo cultural propõe-se o desenvolvimento de dois Roteiros Permanentes, como o Circuito Turístico-cultural da Cidade Alta no trecho do Campo Grande ao Forte de Santo Antônio Além do Carmo (Largo do Santo Antônio); e o Circuito Turístico-cultural da Cidade Baixa, no trecho da Avenida Contorno à Calçada (Feira de São Joaquim).

Resultado Esperado
Turismo Cultural Qualificado.


Aula 09

EDUCAÇÃO QUILOMBOLA
UMA EDUCAÇÃO DIFERENCIADA

A história de negros e negras no Brasil ganhou mais destaque com a Lei Federal nº 10.639, sancionada em janeiro de 2003. A legislação orienta escolas de ensino fundamental e médio a inserirem o estudo da história e da cultura afro-brasileiras, abordando a luta do povo, seus costumes e sua contribuição nas áreas social, econômica e política.

Experiências bem sucedidas com educação diferenciada em comunidades quilombolas justificam o esforço dessa população e de entidades ligadas à causa para multiplicar a prática em mais localidades. A necessidade de ter nas salas de aula uma formação distinta para crianças, jovens e adultos quilombolas está diretamente ligada ao auto-reconhecimento e à valorização dos quilombos atuais.

A proposta é inserir nos currículos escolares temas que sejam comuns aos quilombolas, como terra, territorialidade e identidade, levando essa realidade aos estudantes. Mesmo com várias dificuldades, algumas comunidades conseguiram alcançar bons resultados práticos.
Entre alguns exemplos de iniciativas educacionais pioneiras estão as localidades de Campinho da Independência, no município de Paraty, no Estado do Rio de Janeiro, o quilombo de Frechal, no município de Mirinzal, no Maranhão, e em Conceição das Crioulas, no município de Salgueiro, no Sertão pernambucano. Nas três comunidades, estudantes têm contato com a realidade local durante as aulas de história, geografia, artes, português e matemática.

Uma das lideranças da comunidade pernambucana, Givânia Silva conta como foi o início da luta, em 1995, por uma educação diferenciada em Conceição das Crioulas. “No começo, nossa reivindicação era ampliar a oferta de ensino na escola da comunidade, para que os jovens não precisassem sair daqui pra concluir o ensino fundamental”, revela. Até então, a escola só atendia crianças até a 4ª série. “Mas isso era no início do nosso reconhecimento como quilombolas. A partir daí, nós começamos a pensar numa forma de educar as crianças sobre a realidade local.”

Ainda segundo ela, o conceito de educação diferenciada foi se criando com o passar dos anos. “Inicialmente, a experiência durou três anos, quando foi interrompida, voltando em 2001. A partir daí, o conceito estava mais sólido e tivemos certeza do que a comunidade queria”, lembra ela.

Givânia resume o que, para ela, é o conceito de educação diferenciada: “tem que olhar o chã

o onde os meninos e meninas vivem. Não falo do chão físico, e sim do local onde habitam.”

Assessora da Coordenação Nacional de Comunidades Quilombolas (Conaq), Jô Brandão destaca um motivo que impede o acesso adequado à educação. “Você não tem moradia adequada e tem uma educação que não respeita a diversidade étnica desses grupos. Você tem crianças e jovens que só começam a estudar com oito, dez anos e em grupos e salas multisseriadas (várias séries numa mesma sala), onde têm várias etapas e faixas etárias juntas. O aprendizado é praticamente impossível dessa forma” conta ela, em entrevista à Rádio Câmara, explicando sobre a realidade em várias comunidades.

Realidade nacional

Para se ter uma idéia dos números nacionais de estudantes quilombolas, existem 49.722 pessoas matriculadas em 364 escolas localizadas em áreas de quilombos. Os dados, divulgados pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), ligada ao Ministério da Educação, revelam também que 62% das matrículas estão concentradas na região Nordeste. Apesar do número significativo de estudantes nessas áreas, poucas escolas trabalham o desenvolvimento infantil por meio de atividades focadas na identidade étnica, uma das práticas da educação diferenciada. Brinquedos produzidos com materiais da comunidade – seja artesanato, como bonecas com a cor da pele das meninas –, além de atividades de seu cotidiano – como capoeira, música e dança – são exemplos de como podem ser usados os elementos locais como conteúdo de aprendizagem.
Atender à diversidade étnica no meio rural é mais difícil. Por isso, o esforço precisa ser ainda maior. Paralelamente, as famílias precisam ser orientadas para que possam cuidar e educar melhor de suas crianças, apoiando seu desenvolvimento.


    "A palavra quilombo tem origem nos termos kilombo (kimbundo) ou ochilombo (umbundo), presente também em outras línguas faladas ainda hoje por diversos povos Bantu que habitam a Angola, no continente africano. Originalmente, a palavra designava apenas um lugar de pouso utilizado por populações nômades ou em deslocamento. Passa a designar também as paragens e acampamentos das caravanas que faziam o comércio de cera, de escravos e de outros “produtos”. Hoje, os quilombos são comunidades organizadas que preservam tradições e relações territoriais próprias, com identidade étnica e cultural."
Aula 08

Religiões Afrobrasileiras: Forma de Organização e Resistência


Artigos para leitura:


Texto 01


RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS: REFLEXÕES HISTÓRICO-CULTURAIS E A INFLUÊNCIA SOBRE O ENSINO RELIGIOSO


RESUMO

Este texto pretende destacar a relevância das religiões afro-brasileiras dentro do espaço escolar, objetivando sensibilizar a comunidade acerca das questões étnico-raciais. Acreditamos que a preparação do professor para o Ensino Religioso voltado para a pluralidade cultural seja um importante caminho, bem como o estímulo ao diálogo entre as diversas disciplinas na tentativa de superar o eurocentrismo cristão, que colocou o negro e sua cultura como inferiores no processo histórico educacional brasileiro. PALAVRAS-CHAVE: Ensino Religioso, Sagrado, Profano, Questões Étnico-Raciais.


1 INTRODUÇÃO

Desde o século XVI o Brasil convive com religiões afro-brasileiras, mas ainda são relacionadas ao profano se considerarmos uma análise à luz da doutrina cristã.O interesse em pesquisar sobre religiosidade afro-brasileira veio à tona diante da preocupação acadêmica, nos últimos tempos, em olhar a religião não apenas de forma racional, mas, principalmente, científica; além da necessidade de evidenciar a pluralidade religiosa.
Entender as religiões de matrizes africanas, a discriminação histórica às quais estiveram e continuam submetidas, a fusão ou adaptação às características da religião católica, o sentido de sagrado entre os seus adeptos tornam-se pontos pertinentes para uma reflexão com a sociedade. Esta discriminação tem um aporte histórico que, no caso do Brasil, justificou-se pela necessidade do capitalismo mercantilista, desde a Idade Moderna, de utilizar o trabalho escravo do negro.

Em tempos remotos, várias sociedades adotaram o escravismo caracterizado pela diferença étnica, como os helênicos; porém, nós somos herdeiros de uma tradição patriarcal, de latifundiários, escravocratas, cristãos que viam o negro como ser inferior. Portanto, o racismo de ontem e de hoje teve e tem motivação na diferença racial, cuja ideologia etnocêntrica deu base a anos de exploração do trabalho do negro.Como afirma Jacob Gorender (2000):

Nas colônias americanas, os senhores brancos eram proprietários de escravos pertencentes a raças diferentes – índios e negros.A prática da escravidão encontrou no racismo uma justificativa ideológica (p. 55).

Este estudo também quer retratar o início de um caminho que estamos buscando percorrer: valorizar a cultura afro-brasileira nas escolas da rede pública federal, incluindo a preocupação em abordar a religiosidade afro-brasileira.O intuito vem em consonância com implementação da Lei 10639/03, a qual institui a obrigatoriedade do ensino de História da África e da Cultura Afro-brasileira.

Entendemos que uma das formas de sensibilização para as questões étnico-raciais é fazer uma ponte, no Ensino Fundamental, entre o Ensino Religioso e diversas disciplinas, a exemplo de História e Sociologia; além de conhecer e valorizar as manifestações culturais africanas no Ensino Médio cotidianamente também através dos diversos componentes curriculares. Pretenderemos, então, nos nortear por alguns questionamentos: por que as religiões afro-brasileiras têm ainda uma conotação profana numa sociedade carregada de traços culturais de três grupos raciais (branco, negro e índio)? Qual (ais) a(s) dificuldades de se implantar o Ensino Religioso voltado para as diversas perspectivas do sagrado de acordo com as várias influências histórico-culturais? Qual o perfil do professor de Ensino Religioso atual?


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Texto 02


MOVIMENTO NEGRO


RESUMO

Levando em consideração as peculiaridades que encenam as lutas do negro, é preciso reconhecer as identidades e as novas possibilidades de exercício de direitos e de cidadania plena. Romper com a impossibilidade de reconhecer a importância da contribuição da memória e da resistência afro na sociedade. É preciso que os gestores públicos e a sociedade civil assumam a importância da transmissão desses valores culturais, da formação e da troca de saberes civilizatórios, resgatando a organização coletiva do povo negro por meio do Movimento Negro e das ações efetivas de preservação e valorização de espaços de tradição de matriz africana como os Quilombos e templos religiosos. Entender que nesses espaços se pratica a resistência, uma luta contra a intolerância, contra o racismo, por meio da preservação da identidade e das manifestações culturais que precisam ser protegidas. Ainda se convive com a precarização desses espaços, que resistem a todas as intempéries, a uma sociedade e um Estado que não respeita a pluralidade e a diversidade de sua formação. Uma sociedade que convive com intolerâncias e preconceitos dos que não conseguem conviver com espelhos que refletem muitas verdades sendo que nenhuma delas é uma verdade absoluta. Palavras chave: Quilombos, Movimento Negro, resistência.


1 INTRODUÇÃO

A pesquisa científica necessita, para ser exeqüível, delimitar a amplitude de seu objeto de estudo. Toda pesquisa opera em recortes sobre uma determinada realidade, uma vez que é impossível contemplar, por meio de uma só pesquisa, a totalidade dos fenômenos naturais ou sociais. Um dos meios da elaboração dessa pesquisa é fazer um recorte temático, que através de um funilamento do tema tão abrangente como "Movimento Negro", tentará chegar a esse objeto de pesquisa. A partir desse procedimento metodológico se chegará às problemáticas do objeto estudado: Movimento Negro Expressão de resistência Quilombolas, rituais/ religiões afro brasileiros.

Após um breve estudo sobre pesquisas científicas, adotou-se a pesquisa bibliográfica como uma das metodologias. A observação participante foi o método usado para coletar dados imprescindíveis para realização e desempenho dessa pesquisa. Essa metodologia consiste em uma participação real do conhecimento na vida das comunidades quilombolas, em específico da Comunidade Quilombola Manzo Ngunzo Kaiango em Belo Horizonte - MG, sem perder o olhar crítico e científico.

As entrevistas apoiaram-se nas condições sociais e culturais do Movimento Negro, facilitando assim o diálogo, o entendimento entre as partes, alcançando uma aproximação com as comunidades pesquisadas como a FCRCN-MG - Fundação Centro de Referência da Cultura Negra e o CENARAB Centro Nacional de Referência Afrodescendente).

No primeiro aborda-se a história do Movimento Negro, suas origens, seus percussores, as demandas que proporcionaram seu surgimento. Em seguida se tentará criar um esboço teórico sobre a identidade negra. O terceiro tópico consiste em reunir a religiosidade do negro a sua cultura, língua, cultos.Esses tópicos anteriores darão base para se entender à formação das comunidades Quilombolas que será relatada no quarto item e por último será tratada uma discussão de Quilombos e religião como expressão de resistência negra a exclusão social nos dias atuais.

A natureza desse trabalho além de seu cunho interdisciplinar é também proporcionar uma releitura sobre os negros desde suas angústias, preconceitos sofridos até suas conquistas e demandas atuais, através de órgãos filiados ao Movimento Negro, ou por suas lutas isoladas, autodidatas.


2 DESENVOLVIMENTO


2.1 História do Movimento Negro no Brasil.

Representantes de movimentos com propósitos revolucionários alegam que a ideologia de grupos de uma sociedade comum, representa movimentos sociais.

Movimentos sociais são movimentos populares de representação de um grupo de interesses cuja ação social é orientada, o que descaracteriza como espontâneo, a fim de obter transformações políticas e econômicas em um novo cenário de transformações naturais, e sociais, levando em consideração a metodologia adotada, sua organização, seu contexto geográfico, seus representantes, ideologia, políticas, vitórias, derrotas, estrutura e experiência para se consolidar como representativo dentro de uma sociedade. (BRAGA, 1999.).

Podemos considerar que as primeiras formas de resistência dos negros a escravidão ainda nos navios que os traziam de sua terra natal, a África, sejam as primeiras expressões do Movimento Negro no Brasil. As lutas para manterem vivas suas tradições e pela resistência ao trabalho escravo traçam um importante momento histórico desse Movimento, que ao longo de sua formação assistiram várias batalhas para a inserção desses grupos dentro da sociedade.

No final do século XIX, segundo a historiadora ALBERTI, Verena, "já circulavam vários jornais voltados para a população negra com o objetivo de denunciar a descriminação racial. Dessa iniciativa surgiram alguns fundadores da chamada "Frente Negra Brasileira" em 1931, que chegou a se transformar em partido político em 1936".

(ALBERTI, 2008).

Ainda segundo a autora muitos dos documentos desse período mostram que não era rara a circulação de referências e informações de fora do Brasil, principalmente da África e dos Estados Unidos, que na década de 60 viviam o processo de libertação das colônias africanas e da mobilização pelos direitos civis. ALBERTI, ainda afirma que com a atuação desse movimento social na história do Brasil é possível registrar a formação de entidades que buscavam denunciar o racismo e organizar a comunidade negra. Dentre as várias entidades podemos citar o Grupo Palmares, criado em Porto Alegre em 1971; o Centro de Estudos e Arte Negra (Cecan), aberto em São Paulo em 1972; a Sociedade de Intercâmbio Brasil-África (Sinba), inaugurada no Rio de Janeiro em 1974, e o Bloco Afro Ilê Aiyê, fundado em Salvador também em 1974.

Em 07 de Julho de 1978, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo houve uma manifestação contra o preconceito racial que mais tarde se tornaria o Movimento Negro Unificado (MNU), uma das entidades do Movimento Negro no Brasil, que tem o objetivo de denunciar, permanentemente, todo tipo de racismo e organizar a comunidade negra.
A repercussão nacional do ato público nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, em 1978, possibilitou a criação de muitas organizações em diferentes estados do país e acabou sendo responsável pela difusão da noção de "movimento negro" como designação genérica para as diversas entidades e ações a partir daquele momento bastante evidente do trabalho de disputa pela memória nacional, que culminou com a inscrição do nome de Zumbi no livro dos heróis da pátria, em 20 de novembro de1996. (ALBERTI, 2008).

A motivação desse ato público segundo a Historiadora foi o assassinato do jovem negro Robson Silveira da Luz, no distrito policial de Guaianazes - SP, para onde tinha sido levado preso, acusado de roubar frutas numa feira, e na discriminação sofrida por quatro meninos negros impedidos de treinar vôlei no Time Infantil de Regatas do Clube Tietê. A segunda assembléia nacional do MNU, realizada em Salvador em novembro de 1978, declarou a data de 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares como o "Dia Nacional da Consciência Negra.".

Em 1988 comemorava-se o centenário da Abolição no Brasil, uma série de manifestações denunciava as condições dos negros no país. Aprovava-se uma nova constituição, e duas importantes reivindicações do MNU viraram textos constitucionais a criminalização do racismo (Art. 5º) e o reconhecimento da propriedade das terras de remanescentes de quilombos (Art. 68º) do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). Com o governo Fernando Henrique Cardoso, foi criado um Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da População Negra, dando a partida nas primeiras iniciativas de ação afirmativa na administração pública federal. Em 2001 foi realizada a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, na cidade de Dobam - África do Sul, que mobilizou o governo e as entidades do Movimento Negro e resultou em novos acontecimentos, como a reserva de vagas para negros em algumas universidades do país e novos compromissos assumidos pelo Estado em âmbito internacional. (FCRCN-MG - Fundação Centro de Referência da Cultura Negra).

Atualmente no Brasil há uma maior abertura para se discutir os problemas da sociedade negra, como as conferências contra a intolerância racial. Esse movimento se organiza em associações, grupos de apoio, fundações etc. com os objetivos de buscar a efetivação dos direitos a igualdade, promover a equidade entre a sociedade, através de ações afirmativas e políticas de integração social. Mas as velhas demandas continuam sendo lutas constantes do genérico Movimento Negro, como a luta pelo fim do racismo e exclusão da sociedade negra no mercado de trabalho e do conjunto de direitos que constituem dignamente um cidadão ativo no meio em que vive.

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Aula 07

MITOLOGIA DOS ORIXÁS

No começo não havia separação entre
o Orum, o Céu dos orixás,
e o Aiê, a Terra dos humanos.
Homens e divindades iam e vinham,
coabitando e dividindo vidas e aventuras.
Conta-se que, quando o Orum fazia limite com o Aiê,
um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas.
O céu imaculado do Orixá fora conspurcado.
O branco imaculado de Obatalá se perdera.
Oxalá foi reclamar a Olorum.
Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo,
irado com a sujeira, o desperdício e a displicência dos mortais,
soprou enfurecido seu sopro divino
e separou para sempre o Céu da Terra.
Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens
e nenhum homem poderia ir ao Orum e retornar de lá com vida.
E os orixás também não podiam vir à Terra com seus corpos.
Agora havia o mundo dos homens e o dos orixás, separados.
Isoladas dos humanos habitantes do Aiê, as divindades entristeceram.
Os orixás tinham saudades de suas peripécias entre os humanos
e andavam tristes e amuados.
Foram queixar-se com Olodumare, que acabou consentindo
que os orixás pudessem vez por outra retornar à Terra.
Para isso, entretanto, teriam que tomar o corpo material de seus devotos.
Foi a condição imposta por Olodumare

Oxum, que antes gostava de vir à Terra brincar com as mulheres,
dividindo com elas sua formosura e vaidade,
ensinando-lhes feitiços de adorável sedução e irresistível encanto,
recebeu de Olorum um novo encargo:
preparar os mortais para receberem em seus corpos os orixás.
Oxum fez oferendas a Exu para propiciar sua delicada missão.
De seu sucesso dependia a alegria dos seus irmãos e amigos orixás.
Veio ao Aiê e juntou as mulheres à sua volta,
banhou seus corpos com ervas preciosas,
cortou seus cabelos, raspou suas cabeças,
pintou seus corpos.
Pintou suas cabeças com pintinhas brancas,
como as pintas das penas da conquém,
como as penas da galinha-d’angola.
Vestiu-as com belíssimos panos e fartos laços,
enfeitou-as com jóias e coroas.
O ori, a cabeça, ela adornou ainda com a pena ecodidé,
pluma vermelha, rara e misteriosa do papagaio-da-costa.
Nas mãos as fez levar abebés, espadas, cetros,
e nos pulsos, dúzias de dourados indés.
O colo cobriu com voltas e voltas de coloridas contas
e múltiplas fieiras de búzios, cerâmicas e corais.
Na cabeça pôs um cone feito de manteiga de ori,
finas ervas e obi mascado,
com todo condimento de que gostam os orixás.
Esse oxo atrairia o orixá ao ori da iniciada e
o orixá não tinha como se enganar em seu retorno ao Aiê.
Finalmente as pequenas esposas estavam feitas,
estavam prontas, e estavam odara.
As iaôs eram a noivas mais bonitas
que a vaidade de Oxum conseguia imaginar.
Estavam prontas para os deuses.

Os orixás agora tinham seus cavalos,
podiam retornar com segurança ao Aiê,
podiam cavalgar o corpo das devotas.
Os humanos faziam oferendas aos orixás,
convidando-os à Terra, aos corpos das iaôs.
Então os orixás vinham e tomavam seus cavalos.
E, enquanto os homens tocavam seus tambores,
vibrando os batás e agogôs, soando os xequerês e adjás,
enquanto os homens cantavam e davam vivas e aplaudiam,
convidando todos os humanos iniciados para a roda do xirê,
os orixás dançavam e dançavam e dançavam.
Os orixás podiam de novo conviver com os mortais.
Os orixás estavam felizes.
Na roda das feitas, no corpo das iaôs,
eles dançavam e dançavam e dançavam.
Estava inventado o candomblé.

(Reginaldo Prandi, Mitologia dos orixás, págs. 524-528)


Leia material do profes






Aula 06







“Roger Bastide”


O Candomblé sobrevive até hoje
porque não quer converter as pessoas sobre uma verdade absoluta,
ao contrário da maioria das religiões.


“Pierre Verger”
A filosofia do Candomblé não é uma filosofia bárbara,
e sim um pensamento sutil que ainda não foi decifrado.



O Candomblé ao contrário do que muitos pensam é sim uma religião, e não uma seita praticada isoladamente e cheia de ocultismos desconhecidos pelo povo, dessa forma somos reconhecidos diante a constituição Brasileira que nos assegura diante os rigores da Lei.

Pela Constituição Federativa do Brasil. Outrossim, o artigo 208 do Código Penal Brasileiro prevê para o crime de ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo, pena de detenção de um mês a um ano ou multa.

O artigo 5° da Constituição Federal assegura:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, a Liberdade, à igualdade, à segurança e a à prosperidade.

O Inciso VI do artigo 5º da Carta Política de 1988 diz:
É inviolável a liberdade de consciência e de crença sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

A Constituição Federal, o parágrafo 1° do artigo 215 deixa claro que o Candomblé é uma forte expressão da cultura popular afro-brasileira, e pode contar com a devida proteção do Estado para existir.

Artigo 215. O estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.

Parágrafo 1º. O estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e dos outros grupos participantes do processo Civilizatório Nacional.

Inciso VI do artigo 5º, (referência) 
O artigo 208 do Código Penal prevê:
Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar a cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso. (Constituem crime) 

Pena – detenção, de 1 mês a 1 ano, ou multa. 

Parágrafo Único. Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente a violência.

Como o Candomblé é assegurado por lei, é dever de a polícia garantir a proteção e o devido respeito tanto as liturgias cultos ou oferendas. Assim como fazer uma oferenda a Exu numa encruzilhada é um direito, assim como é um direito uma procissão ou pregação em via pública por outras religiões. A polícia só poderá invadir um terreiro de Candomblé, a menos que observe os trâmites legais.

Devem os Templos de Candomblé e seus sacerdotes começarem a reivindicar os privilégios e isenções que a lei assegura aos ministros de confissão religiosa e às suas igrejas, como o direito a prisão especial, a contribuição à previdência Social na qualidade de sacerdote e desobrigação de recolher alguns impostos como o IPTU.

Também se integram não só aos seguidores do candomblé, mas toda a população principalmente ao povo negro seus direitos diante a sociedade como um ser de igual valor e conduta sendo assegurado por lei. Isso implica que jamais deverá sofrer preconceito de raça, cor, etnia, religião, ou procedência nacional.
Todos o direitos, penas e reclusões se encontram na Lei 7.716 de 5/1/1989 do artigo 1 ao 22. Diante o Congresso Nacional Detratada e Sancionada a Lei em Brasília, em 5 de janeiro de 1989; 168° da Independência e 101° da República. Pelo Presidente José Sarney./ Paulo Brossard.

(Fonte Retirada do Livro “A Panela de Segredos” de Pai Cido de Osun Eyin, a qual recebe minha grande admiração e agradecimentos)

Se existem homens que adoram o santo de madeira feito por eles, eu adoro a pedra, o santo do negro, que é a natureza.

Mãe Menininha do Gantois.

Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade
Carta escrita pelo Movimento da Marcha Mundial das Mulheres propõe um mundo melhor

Nós, as mulheres, há muito tempo marchamos para denunciar e exigir o fim da opressão que vivemos por sermos mulheres e, para afirmar que a dominação, a exploração, o egoísmo e a busca desenfreada do lucro produzem injustiças, guerras, ocupações, violências e devem acabar. 


Das nossas lutas feministas e das lutas de nossas antepassadas de todos os continentes, nasceram novos espaços de liberdade para nós, para nossas filhas e filhos para todas as crianças que, depois de nós, caminharão sobre a terra. 


Estamos construindo um mundo no qual a diversidade é uma virtude; tanto a individualidade como a coletividade são fontes de crescimento; onde as relações fluem sem barreiras; onde a palavra, o canto e os sonhos florescem. Esse mundo considera a pessoa humana como uma das riquezas mais preciosas. Um mundo no qual reinam a igualdade, a liberdade, a solidariedade, a justiça e a paz. Este mundo nós somos capazes de criar. Constituímos mais da metade da humanidade. Damos a vida, trabalhamos, amamos, criamos, militamos nos divertimos. Garantimos atualmente a maior parte das tarefas essenciais para a vida e a continuidade da humanidade. No entanto, nessa sociedade continuamos sendo oprimidas. 
A Marcha Mundial das Mulheres, da qual fazemos parte, identifica o patriarcado como sistema de opressão das mulheres e o capitalismo como sistema de exploração de uma imensa maioria de mulheres e homens por parte de uma minoria. 


Esses sistemas se reforçam mutuamente. Eles se enraízam e se conjugam com o racismo, o sexismo, a misoginia, a xenofobia, a homofobia, o colonialismo, o imperialismo, o escravismo e o trabalho forçado. Constituem a base dos fundamentalismos e integrismos que impedem às mulheres e aos homens serem livres. Geram pobreza, exclusão, violam os direitos dos seres humanos, particularmente os das mulheres, e põem a humanidade e o planeta em perigo. 
Propomos construir outro mundo, onde a exploração, a opressão, a intolerância e as exclusões não existam mais; onde a integridade, a diversidade, os direitos e liberdades de todas e todos são respeitados. 
Esta Carta se baseia nos valores de igualdade, liberdade, solidariedade, justiça e paz. 

IGUALDADE 


1. Todos os seres humanos e todos os povos são iguais, em todos os domínios e em todas as sociedades. Eles têm igual acesso às riquezas, a terra, a um emprego digno, aos meios de produção, a uma moradia adequada, à educação de qualidade, à formação profissional, à justiça, a uma alimentação saudável, nutritiva e suficiente, a serviços de saúde física e mental, à segurança durante a velhice, a um meio ambiente saudável, à propriedade, a funções de representação política e de tomada de decisões, à energia, à água potável, ao ar puro, aos meios de transporte, às técnicas, à informação, aos meios de comunicação, ao lazer, à cultura, ao descanso, à tecnologia e às inovações científicas. 

2. Nenhuma condição humana ou condição de vida justifica a discriminação. 

3. Nenhum costume, tradição, religião, ideologia, nenhum sistema econômico ou político justificam que uma pessoa seja posta em situação de inferioridade, nem permitir atos que ponham em perigo sua dignidade e integridade física e psicológica. 

4. As mulheres são cidadãs de pleno direito, antes de serem cônjuges, companheiras, esposas, mães, trabalhadoras. 

5. As tarefas não remuneradas, ditas femininas, que garantem a vida e a continuidade da sociedade (trabalhos domésticos, educação, cuidado das crianças e dos familiares) são atividades econômicas que criam riqueza e que devem ser valorizadas e partilhadas. 

6. Os intercâmbios comerciais entre países são eqüitativos e não são prejudiciais ao desenvolvimento dos povos. 

7. Cada pessoa tem acesso a um trabalho remunerado justamente, efetuado em condições seguras e salubres que a permitam viver dignamente. 

LIBERDADE 


1. Todo ser humano vive livre de todo tipo de violência. Nenhum ser humano pertence a outro. Nenhuma pessoa pode ser objeto de escravidão, ser forçado ao casamento, ser submetida a trabalhos forçados, ser objeto de tráfico e de exploração sexual. 

2. Cada pessoa goza de liberdades coletivas e individuais que garantem sua dignidade, em especial: liberdade de pensamento, de consciência, de crença, de religião; de expressão, de opinião; de viver livremente e de maneira responsável sua sexualidade, de escolher a pessoa com quem partilhar sua vida; de votar, de ser eleita, de participar na vida política; de se associar, se reunir, se sindicalizar, se manifestar; de escolher seu domicílio, sua nacionalidade, de escolher seu estado civil; de seguir os estudos de sua escolha, de escolher sua profissão e exercê-la; de se mudar, de dispor de sua pessoa e de seus bens; de escolher seu idioma de comunicação respeitando as línguas prioritárias e decisões coletivas quanto à língua de uso e de trabalho; de se informar, de aprender coisas novas, trocar idéias e ter acesso às tecnologias de informação. 

3. As liberdades se exercem na tolerância e no respeito à opinião de cada pessoa, e dentro de parâmetros democráticos e participativos. As liberdades acarretam responsabilidades e deveres para com a comunidade. 

4. As mulheres tomam livremente as decisões no que se refere ao seu corpo, sua sexualidade e sua fecundidade. Elas decidem por si mesmas ter ou não filhos. 

5. A democracia se exerce se há liberdade e igualdade. 

SOLIDARIEDADE 


1. A solidariedade internacional é promovida entre as pessoas e os povos sem nenhum tipo de manipulação ou influência. 

2. Todos os seres humanos são interdependentes. Partilham o dever e a vontade de viver juntos, de construir uma sociedade generosa, justa e igualitária, baseada no exercício dos direitos humanos, isenta de opressão, de exclusões, de discriminações, de intolerância e de violências. 

3. Os recursos naturais, os bens e os serviços necessários para a vida de todas e de todos são bens e serviços públicos de qualidade aos quais cada pessoa tem acesso de maneira igualitária e eqüitativa. 

4. Os recursos naturais são administrados pelos povos que vivem nos territórios onde eles se encontram, de respeitando o meio ambiente e atuando para sua preservação e sustentabilidade. 

5. A economia de uma sociedade está a serviço daquelas e daqueles que a compõem. Ela é dirigida à produção e intercâmbio das riquezas socialmente úteis, que são distribuídas entre todas e todos, que garantem principalmente a satisfação das necessidades coletivas, eliminam a pobreza e asseguram um equilíbrio entre o interesse geral e os interesses individuais. Ela garante a soberania alimentar. Ela se opõe à busca exclusiva do lucro e à acumulação privada dos meios de produção, das riquezas, do capital, das terras, das tomadas de decisão nas mãos de alguns grupos ou de algumas pessoas. 

6. A contribuição de cada uma e de cada um para a sociedade é reconhecida e independente da função que ocuparem todas as pessoas gozam de direitos sociais. 

7. As manipulações genéticas são controladas. Não existe direito de propriedade sobre o ser vivo nem sobre o genoma humano. A clonagem humana é proibida. 

JUSTIÇA 


1. Todos os seres humanos, independente de seu país de origem, de sua nacionalidade e de seu lugar de residência, são considerados cidadãs e cidadãos com plenos direitos humanos (direitos sociais, econômicos, políticos, civis, culturais, sexuais, reprodutivos, ambientais) de forma realmente democrática igualitária e eqüitativa. 

2. A justiça social se baseia em uma redistribuição eqüitativa das riquezas, que elimina a pobreza, limita a riqueza e garante a satisfação das necessidades essenciais da vida, e que visa à melhoria do bem-estar de todas e todos. 

3. A integridade física e moral de todas e todos é garantida. A tortura, os tratamentos humilhantes e degradantes são proibidos. As agressões sexuais, o estupro, as mutilações genitais femininas, as violências específicas contra as mulheres e o tráfico sexual e o tráfico de seres humanos são considerados crimes contra a pessoa e contra a humanidade. 

4. Um sistema judiciário acessível, igualitário, eficaz e independente é instaurado. 

5: Cada pessoa goza da proteção social necessária para garantir seu acesso à alimentação, ao cuidado, à atenção à saúde, à habitação adequada, à educação, à informação, e à segurança durante a velhice. Ela tem acesso à renda suficiente para viver dignamente. 

6. Os serviços de saúde e sociais são públicos, acessíveis, de qualidade, gratuitos para todos os tratamentos, todas as pandemias, particularmente para HIV. 

PAZ 


1. Todos os seres humanos vivem em um mundo de paz. A paz resulta em particular da: igualdade entre os sexos, da igualdade social, econômica, política, jurídica e cultural, do respeito aos direitos, da erradicação da pobreza que assegure a todas e todos uma vida digna, isenta de violência, onde cada pessoa tem um trabalho e recursos suficientes para se alimentar, ter moradia, se vestir, se instruir, estar protegido na velhice, ter acesso aos cuidados necessários. 

2. A tolerância, o diálogo, o respeito da diversidade são garantias da paz. 

3. Todas as formas de dominação, de exploração e de exclusão de parte de uma pessoa sobre outra, de um grupo sobre outro, de uma minoria sobre uma maioria, de uma maioria sobre uma minoria, de uma nação sobre outra são excluídas. 

4. Todos os seres humanos têm o direito de viver em um mundo sem guerra e sem conflito armado, sem ocupação estrangeira nem base militar. Ninguém tem direito sobre a vida ou morte das pessoas ou dos povos. 

5. Nenhum costume, tradição, ideologia, religião, sistema econômico nem político justificam violências. 

6. Os conflitos armados ou não entre os países, comunidades ou povos são resolvidos pela negociação que permite encontrar soluções pacíficas, justas e eqüitativas em nível nacional, regional e internacional. 

Esta Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade faz um chamado a todas as mulheres e homens e a todos os grupos oprimidos do planeta a proclamarem individual e coletivamente seu poder para transformar o mundo e modificar radicalmente as relações existentes e transformá-las em relações baseadas na igualdade, na paz, na liberdade, na solidariedade e na justiça. Ela chama todos os movimentos sociais e a todas as forças sociais a agir para que os valores que defendemos nesta Carta sejam verdadeiramente postos em prática, e para que as instâncias de poder político tomem todas as medidas necessárias para sua aplicação. 


Ela faz um chamado à ação imediata para mudar o mundo!

FONTE: www.rits.org.br em 07/03/05.
DATA: 07 de março de 2005 às 15:48



Trecho de entrevista do pseudo – Monge Beneditino Marcelo Barros


A Igreja permite o ecumenismo, mas é contra o sincretismo. Por quê?

MB A Igreja Católica busca a unidade, é a favor do ecumenismo entre as igrejas e do diálogo entre as religiões. Mas não concorda com a pessoa ser católica e, ao mesmo tempo, do candomblé. Ou em uma celebração, misturar mantra hindu, saudação a Alá e rito católico. Essa é a posição de quase todas as igrejas cristãs. As protestantes ainda são mais severas. Mesmo as que aceitam o diálogo morrem de medo das religiões afro por causa do perigo do sincretismo e da idolatria.

Já no candomblé, o respeito à sexualidade é enorme.

MB O candomblé tem como elemento fundamental o axé, que é a energia vital. É a energia divina. Tudo que favorece essa energia de amor é acolhido. Na questão sexual, o interdito, o proibido, toca muito mais nos princípios rituais do que nos morais. A mulher menstruada deve evitar fazer sacrifícios isso é muito mais ritual do que moral. Ter um comportamento agressivo, tomar o marido da outra, pedofilia, estupro, tudo isso é condenado. Mas a relação sexual normal, sadia, faz parte do que chamam de "boa energia".

Sexo é o tabu para a Igreja católica...

MB Quando estudei a Bíblia, descobri que a visão da moral oficial da Igreja não é exatamente a mesma da Bíblia. No Antigo Testamento, ao menos por um tempo, se aceita a poligamia. Depois, a comunidade vai, cada vez mais, descobrindo como palavra de Deus o direito de igualdade homem- mulher e a proposta de relação única e fiel. Mas sem condenações. Há um texto muito citado pela Igreja contra os homossexuais: o primeiro capítulo da Carta aos Romanos, onde Paulo fala de decadência do Império Romano. Uma decadência política, social, cultural e moral. Aí não se trata de homossexualismo como tal e sim de uma depravação geral. Logo, a questão é cultural. Não se pode fazer uma leitura fundamentalista dos textos.

O que é preciso mudar em todas as religiões?

MB O patriarcalismo, com exceção das religiões afro, onde o sacerdócio é feminino na maioria dos casos. As religiões monoteístas têm a mesma formação patriarcal: o islamismo, o judaísmo... As tradições indígenas também são bem patriarcais. Religião é expressão de cultura. Ver igrejas protestantes, que ordenam mulheres, ajuda a gente, dá exemplo.



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LAMENTO NEGRO (fragmento)


Eu sinto em minhas veias o grito dos cafezais.
Enxergo em minhas mãos a sombra dos meus irmãos
vergastados pelo chicote dos senhores da terra.

Aqueles que carregam o Brasil nas costas
não têm túmulos nem legendas;
seu sono não é velado,
seu nome ninguém conhece.

Hoje eles seguem a sina de uma sorte inglória...


(Prof. Eduardo de Oliveira)